sábado, 30 de março de 2013


"DESIGUALDADE EDUCACIONAL AINDA É TOTALMENTE TOLERADA NO BRASIL"

Para Priscila Cruz, diretora-executiva do TPE, falta de equidade tem de ser combatida


Da Redação do Todos Pela Educação
O Brasil é um País com alta desigualdade social e a Educação é uma das principais políticas capazes de diminuir desvantagens socioeconômicas. No entanto, segundo Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, "hoje, um grande problema que possuímos é uma imensa desigualdade educacional, que, infelizmente, é totalmente tolerada pelos brasileiros".
Segundo Priscila, é preciso que o País adote medidas e estratégias diferenciadas, de acordo com as várias realidades que coexistem nos sistemas de ensino. Na entrevista abaixo, a administradora e bacharel em direito mostra como a Educação é um complexo sistema. Confira:

Todos Pela Educação – Em sua opinião, quais são os principais gargalos da Educação no Brasil?
Priscila Cruz – Os sistemas educacionais são arranjos delicados, que têm os alunos no centro. Hoje, um grande problema que possuímos é uma imensa desigualdade educacional, que, infelizmente, é totalmente tolerada pelos brasileiros.

TPE – O que pode ser feito para diminuir a desigualdade educacional?
Priscila – É preciso dar mais para quem tem menos, e ter estratégias diferenciadas, de acordo com as diferentes realidades de aprendizagem. A Educação é o principal componente para combatermos a pobreza e a desigualdade. Se a desigualdade na Educação amplia a desigualdade social, a equidade educacional pode tornar o ciclo vicioso em ciclo virtuoso.

TPE – E como trabalhar isso na prática?
Priscila – Na Educação, vários fatores são interligados, então, precisamos ter uma sintonia entre os trabalhos parlamentares, as políticas, as ações nas escolas e a participação social. Também as políticas precisam estar em sintonia entre si. Só com essa combinação podemos garantir que cada criança e jovem tenha acesso à Educação de qualidade.

TPE – Hoje, o magistério não é uma profissão atraente. Qual é o impacto disso na Educação e o que precisamos fazer para que se torne uma carreira interessante para os jovens?
Priscila – Só teremos Educação de qualidade com bons professores e, para isso, é preciso atrair para a carreira do magistério os melhores alunos egressos do Ensino Médio. Essa carreira precisa ter atratividade suficiente, pois "concorre" com outras carreiras que são mais rentáveis ou têm mais prestígio. Assim, é necessário que o salário dos professores se aproxime do praticado entre os profissionais com a mesma escolaridade; que o magistério seja reconhecido como a mais importante das profissões, tanto por parte dos governos quanto da sociedade e das famílias; e que a formação inicial e a em serviço prepare os professores para o pleno desenvolvimento de suas atividades em sala de aula e para o trabalho em equipe com os colegas da escola.

TPE – No Brasil, não há expectativas de aprendizagem definidas. Isso atrapalha o trabalho do professor?
Priscila – Sim, claro. Quando conversamos com os professores de todo o País, percebemos um sentimento de isolamento, pois é esperado algo deles que eles mesmos não sabem ao certo o que é. Não há uma definição do que deve ser ensinado e aprendido. Se entendemos que a Educação é um direito que se expressa na aprendizagem, então, nada mais necessário do que a definição das expectativas de aprendizagem para cada série.

TPE – Como os gestores das escolas e das redes podem apoiar o trabalho dos professores?
Priscila – Os gestores de rede, as grandes políticas e os professores precisam se alinhar no vetor da qualidade do ensino. Um dos fundamentos de uma boa gestão é ter um diagnóstico preciso, e ele se dá, nas escolas, por meio das avaliações. Então, as avaliações têm de se tornar um instrumento para fortalecer o trabalho do professor na sala de aula. E isso está intimamente relacionado com a definição das expectativas de aprendizado.

TPE – Na sua opinião, os gestores, os docentes e as famílias são favoráveis a avaliações?
Priscila – Felizmente, a maioria das pessoas entende e concorda com a importância de gerir com base em informações das avaliações. O que é menos debatida é a condição da avaliação como um dos princípios do direito de aprender. É preciso verificar que os estudantes aprenderam o conteúdo, para termos a garantia efetivada do direito ao aprendizado. E por isso é tão necessário que a divulgação dos resultados das provas seja célere, assim, os dados podem ser usados com eficiência, dando condições para que os gestores e professores corrijam rumos ou fortaleçam os bons caminhos.
Como a Educação é um direito fundamental, ela é regida pelos princípios da universalização (todos), da equidade (cada um) e da verificação, para que todos e cada um dos estudantes aprendam.

segunda-feira, 25 de março de 2013

''Entre os muros da escola''


                   
Fonte:http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=YD7CFS0mLaY

  O filme, nada moralista, mostra o dia-a-dia de uma escola francesa contemporânea, descrevendo problemas educacionais que vão além dessa realidade como importante painel de desafios aos educadores de hoje, pois trata da relação entre alunos e professor e tem por objetivo mostrar o fazer docente, seguindo de perto o cotidiano de um homem apaixonado por seu trabalho e que, mesmo com tantas dificuldades, conserva um afeto enorme por seus aprendizes, onde culturas diferentes se confrontam e o professor insiste em manter um ambiente de respeito e aplicação em sala de aula, mesmo vendo sua ética ser posta em teste, devido ao comportamento difícil dos estudantes que põem em risco o entusiasmo do mal remunerado professor. Diante dessa situação, um dos seus métodos para desafiar os alunos é ensinar um idioma diferente, em comparação ao falado diariamente. Apesar de retratar o microcosmo de um problema da escola francesa a denúncia feita em "Entre os Muros da Escola" pode ser transplantada para a realidade brasileira com os problemas estruturais do nosso sistema de ensino, principalmente no que diz respeito à qualidade e à natureza do ensino oferecido aos filhos das classes menos favorecidas. Os limites da escola pública brasileira sejam no sentido de ferramenta de superação de desigualdades sociais, ou na de formação da cidadania, devem ser percebidos em relação a outras esferas sociais que, por conta de sua imensa complexidade e desigualdade, produzem conflito. 
   Perceber a dimensão conflituosa e contraditória da escola, na forma como é representada pelo filme, é de fundamental importância para se repensar o papel dessa instituição. Afinal, a tarefa de construção de uma escola democrática e, acima de tudo, socialmente relevante, demanda uma análise que deve se alicerçar em uma postura histórica e crítica da realidade em que se está inserido. Educar é uma tarefa árdua, principalmente educar a quem não recebe educação em casa, porém quem educa sempre aprende. Os professores aprendem que paciência é a palavra-chave para contornar todos os problemas pelos quais perpassam a educação moderna, incrivelmente pós-moderna, centrada nos direitos dos alunos, buscando assim concertar erros do passado, como a indisciplina, as práticas punitivas, posturas docentes mais humanas, uma melhor comunicação entre professor e aluno, conteúdos adequados a realidade, histórico familiar e principalmente o respeito às diferenças os quais privavam os discentes de voz dentro da sala de aula. 
   Estes tópicos ficam bem claros no filme, onde equipe diretiva e professores não se preocupam com essas questões, mostrando uma educação como era no passado, onde muitas vezes o próprio professor se torna juiz dentro de sua sala de aula, apesar de tentar por sua garra, dedicação e entusiasmo mudar algo em seus alunos, acaba esbarrando no que muitos teóricos falam, em algumas dificuldades em nosso fazer pedagógico nos reportamos a nossa infância, alicerce para nossas duvidas, então agimos como nossos antepassados. Neste ponto acabamos deixando cair nossas máscaras de educadores que tentamos passar no nosso cotidiano escolar e mudar uma sociedade doente e que precisa de humanidade e justiça.     
  Esse ponto fica bem claro no filme quando o professor acaba usando de ironia em situações que não está preparado para enfrentar. De uns anos pra cá, as novas teorias pedagógicas apontam que o ensino deve ser mais humano, ou seja, que o professor deve procurar compreender e estimular os seus alunos, facilitando o processo da aprendizagem, além de respeitar e lidar com as diferenças intelectuais, étnicas, culturais e socais de cada aluno. A voz do professor precisava diminuir para que a dos alunos começasse a ser escutada. Foi uma conquista e tanto dos estudantes, pois se antes temiam os castigos físicos e psicológicos que professores empregavam, agora já podem denunciar abusos de quais quer tipo, praticados pelos seus mestres, mas muitas vezes os professores não estão preparados para isso, como mostra um dos professores entrar na sala e desabafar aos gritos os problemas enfrentados na turma, por ser iniciante na profissão de educador com certeza teve realmente dificuldade de se adaptar ao novo. Apesar de Marim se apresentar como um professor dedicado que esbarra na resistência à cultura escolar por parte de seus alunos, bem como nos conflitos presentes em uma turma, em sua maioria, por alunos oriundos de famílias imigrantes, esses conflitos e resistências aparecem, continuamente, na sala de aula, envolvendo o professor, seus alunos e entre os próprios alunos, como racismo, sexualidade, disputa entre identidades nacionais e preconceito de classe, porém também não consegue lidar com certas situações dentro de sua sala de aula, gerando alguns conflitos como o que aconteceu em sua sala de aula, a violência com a briga quando ele usou de palavras não muito adequadas a postura de um educador ao referir-se a uma aluna. Atualmente os professores estão enfrentando uma crise de identidade, pois o papel do professor, dentro da modernidade, sempre foi o de vanguarda em termos de cultura e civilidade. Este foi o encargo que a burguesia deu ao professor. Seu papel era trazer o camponês para a vida urbana. Era ensinar os rudimentos de uma sociedade capitalista, nacionalista e burguesa ação esta que não poderia ser realizada somente no lar, mas, ultimamente os professores reclamam que os alunos não são civilizados o suficiente para estar na escola. Esse filme "Entre os muros da Escola" é um retrato claro desta confusão de mente que se tem instalado na cabeça da grande maioria dos professores, pois eles precisam perceber que as diferenças existem para que nossos desafios como educadores possam ser levados mais à sério por toda a sociedade. Pode-se pensar como você reagiríamos diante de alunos, com diversos problemas pessoais e familiares completamente desinteressados em aprender, diante de manifestações claras de indisciplina e agressividade, déficits de atenção, hiperatividade e que a melhor solução seria ensinar esses alunos a pensar por si próprios, dando subsídios de humanidade e valorização do eu. De acordo com o que muitos pensam a visão da educação nos países de primeiro mundo é a mais idealizada possível, onde se possui acesso gratuito e ensino de qualidade, professores bem remunerados e preparados para lecionar e alunos felizes e interessados em aprender, mas ao assistir a produção "Entre os Muros da Escola", temos a plena consciência que os problemas educacionais podem ir muito além das queixas de dificuldade de acesso ao ensino, falta de opções ou qualificações e nos mostra uma emocionante aula de reflexão sobre as práticas pedagógicas e as diferentes maneiras de se lidar com os problemas do nosso dia a dia como educadores. Como educadora, percebo que a escola nunca foi um romance. Sei o que posso fazer, e até onde posso ir e de minhas limitações. Nunca romantizei a relação aluno e professor.    
   "Entre os muros da escola" retrata a escola nua, quase visceral, onde o professor Marin claramente tem problemas em lidar com os adolescentes que encara todos os dias. Talvez, esta seja a maior mágica do filme, mostrando um professor que tem dificuldades, não se mostra competente no que faz e está longe de ser brilhante, articulado, ou mesmo, esperto, mas seus alunos são o retrato da juventude, com todas as características desta fase, as roupas, celulares, o sexo, a revolta, o preconceito e ao mesmo tempo por não possuírem identidade são identificáveis em toda parte, é um filme sobre a realidade de uma escola qualquer, de um professor qualquer, e de um aluno qualquer. Não existem heróis. Não existem bandidos. O que existem são apenas conflitos, suas ideologias, e, porque não, sua beleza, que confirmam as desigualdades sociais e de como o ensino formal deve lidar com os diferentes grupos sociais, que valores a escola deve definir como fundamentais na formação do sujeito, quais são os limites dessa educação escolar, dados os outros elementos constitutivos desse mesmo sujeito e que precisam da escola para crescer tanto intelectualmente quanto como seres humanos. Na cena final do filme, quando o professor Marin, no último dia de aula, pergunta aos seus alunos o que aprenderam durante o ano. A resposta de uma das alunas chama atenção. Quando perguntada se gostava dos livros que lia no colégio respondeu que achava todos inúteis, que preferia escolher por conta própria. Então o professor pergunta: e qual livro que você leu e gostou? "A República, de Platão", responde a aluna. A resposta não poderia ser mais surpreendente. Sinal que nem tudo está perdido. Com essa afirmação, podemos perceber que como educadores devemos dar espaço e oportunidade para nossos alunos para que possam construir sua própria identidade.
Autor: Marilene Schwinn

sexta-feira, 22 de março de 2013

   Indicamos para nossos leitores esse blog muito interessante, o blog é dedicado a divulgação do projeto       História e Cinema, com várias dicas de filmes e curta metragem legais e educativos.

Acessem e Curtam!

Link:  http://cinehistoriaeduc.blogspot.com.br/2010/10/desigualdade-social-debatida-no.html

quinta-feira, 21 de março de 2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sugestão para leitura " Os Meninos e a Rua ", de Tânia Ferreira.


     Livro baseado na experiência e na pesquisa da autora. São vários aspectos da vida de crianças e adolescentes com trajetória de vida na rua, abordados na obra. A autora mostra indicadores que podem contribuir e delinear políticas de assistência, enlaçando as dimensões clínica, pedagógica e política.




                                                                Fonte: Editora Autêntica


Bourdieu e a educação


Pelo sistema de ensino, as diferenças iniciais de classe são transformadas em desigualdades de destino escolar e em forma específica de dominação

Ana Paula Hey e Afrânio Mendes Catani
A partir dos anos 1960, e durante quase 45 anos, Pierre Bourdieu produziu um conjunto de análises no âmbito da sociologia da educação e da cultura que influenciou decisivamente algumas gerações de intelectuais, obtendo o reconhecimento de pesquisadores, estudantes e ativistas que atuam em várias outras esferas da sociedade. Em “Uma sociologia da produção do mundo cultural e escolar”, introdução a Escritos de educação (1998), que reúne 12 textos do sociólogo francês, Maria A. Nogueira e Afrânio Catani escrevem o seguinte: “Ao mesmo tempo em que colocava novos questionamentos, sua obra fornecia respostas originais, renovando o pensamento sociológico sobre as funções e o funcionamento social dos sistemas de ensino nas sociedades contemporâneas, e sobre as relações que mantêm os diferentes grupos sociais com a escola e com o saber. Conceitos e categorias analíticas por ele construídos constituem hoje moeda corrente da pesquisa educacional, impregnando boa parte das análises brasileiras sobre as condições de produção e de distribuição dos bens culturais e simbólicos, entre os quais se incluem os produtos escolares”.
Bourdieu, em seus escritos, procurou questionar, nas sociedades de classes, temática que persegue muitos intelectuais: a compreensão de como e por que pequenos grupos de indivíduos conseguem se apoderar dos meios de dominação, permitindo nomear e representar a realidade, construindo categorias, classificações e visões de mundo às quais todos os outros são obrigados a se referir. Compreender o mundo, para ele, converte-se em poderoso instrumento de libertação – é esse procedimento que ele realiza, dentre outros domínios, no educacional.
A cultura vem a ser um sistema de significações hierarquizadas, tornando-se um móvel de lutas entre grupos sociais cuja finalidade é a de manter distanciamentos distintivos entre classes sociais. A dominação cultural se expressa na fórmula segundo a qual a cada posição na hierarquia social corresponde uma cultura específica (elitista, média, de massa), caracterizadas respectivamente pela distinção, pela pretensão e pela privação. Definida por gostos e formas de apreciação estética, a cultura é central no processo de dominação; é a imposição da cultura dominante como sendo “a cultura” que faz com que as classes dominadas atribuam sua situação subalterna à sua suposta deficiência cultural, e não à imposição pura e simples. O sistema de ensino desempenha papel de realce na reprodução dessa relação de dominação cultural, funcionando ainda, para Bento Prado Jr., “como chancela de diferenças culturais e lingüísticas já dadas, antes da escolarização, no quadro da socialização primeira, que é necessariamente diferencial, segundo a inscrição das famílias nas diferentes classes sociais. (…) O código lingüístico da burguesia (com seus cacoetes, idiotismos, sua particularidade) será encontrado, pelos futuros notáveis, nas salas de aula, como a linguagem da razão, da cultura, numa palavra, como elemento ou horizonte da Verdade. O particular é arbitrariamente erigido em universal e o ‘capital cultural’ adquirido na esfera doméstica, pelos filhos da burguesia, lhes assegura um privilégio considerável no destino escolar e profissional. No Destino, enfim” (“A Educação depois de 1968”, em Os Descaminhos da Educação, ed. Brasiliense).
A escola como reprodutora da dominação
A função do sistema de ensino é servir de instrumento de legitimação das desigualdades sociais. Longe de ser libertadora, a escola é conservadora e mantém a dominação dos dominantes sobre as classes populares, sendo representada como um instrumento de reforço das desigualdades e como reprodutora cultural, pois há o acesso desigual à cultura segundo a origem de classe.
O filósofo idealista Alain (Émile Chartier, 1868-1951) foi professor durante décadas na Khâgne (classes preparatórias às Escolas Normais nas áreas de letras e filosofia, onde são recrutados os intelectuais de maior prestígio no campo intelectual francês) do Lycée Henri IV (Paris) tendo, dentre centenas de outros alunos, Raymond Aron, Simone Weill e Georges Canguilhem. Em 1932, Alain escrevia emPropos sur l´éducation – Pédagogie enfantine, de maneira apologética, que “se pode perfeitamente dizer que não há pensamento a não ser na escola”.
Bourdieu construirá sua trajetória analítica no domínio da sociologia da educação procurando opor-se a um idealismo como o preconizado por Alain, em que a reflexão é destituída de qualquer fundamento histórico, como na velha tradição francesa. Em artigo de 1966, “A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura”, rompe com as explicações fundadas em aptidões naturais e individuais e critica o mito do “dom”, desvendando as condições sociais e culturais que permitiriam o desenvolvimento desse mito. Desmonta, também, os mecanismos através dos quais o sistema de ensino transforma as diferenças iniciais – resultado da transmissão familiar da herança cultural – em desigualdades de destino escolar. Explora a relação com o saber, em detrimento do saber em si mesmo, mostrando como os estudantes provenientes de famílias desprovidas de capital cultural apresentarão uma relação com as obras da cultura veiculadas pela escola que tende a ser interessada, laboriosa, tensa, esforçada, enquanto para os alunos originários de meios culturalmente privilegiados essa relação está marcada pelo diletantismo, desenvoltura, elegância, facilidade verbal “natural”. Ao avaliar o desempenho dos alunos, a escola leva em conta, conscientemente ou não, esse modo de aquisição e uso do saber.
Segundo Bourdieu, “para que sejam desfavorecidos os mais favorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Tratando todos os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura”.
Bourdieu constrói seu esquema analítico relativo ao sistema escolar e às relações não explícitas que o ancoram em uma longa trajetória que envolve análises empíricas objetivas, centradas em estatísticas da situação escolar francesa. Já em 1964, em Les étudiants et leurs études (Os estudantes e seus estudos) e Les héritiers. Les étudiants et la culture (Os herdeiros. Os estudantes e a cultura), escritos com Jean-Claude Passeron, examina como os estudantes se relacionam com a estrutura do sistema escolar e como são nele representados, e constata a desigual representação das diferentes classes sociais no sistema superior. Investiga a cultura “legítima”, aquela das classes privilegiadas que é validada nos exames escolares e nos diplomas outorgados, e o ensino, aquele que autentica um corpo de conhecimentos, de saber-fazer e, sobretudo, de saber dizer, que constitui o patrimônio das classes cultivadas.
O fato de desvendar as desigualdades do ensino francês, tanto como sistema como em seu interior, significa uma grande mudança no pressuposto já canonizado – principalmente com Durkheim, que personifica o ideal da Terceira República (1870-1940), conhecida como “A República dos Professores” –, em que a escola deveria fornecer a educação para todos os indivíduos, proporcionando-lhes instrumentos que pudessem garantir sua liberdade, mas, também, sua ascensão social.
Ao afirmar que o sistema escolar institui fronteiras sociais análogas àquelas que separavam a grande nobreza da pequena nobreza, e esta dos simples plebeus, ao instaurar uma ruptura entre os alunos das grandes escolas e os das faculdades (ao analisar o campo universitário francês e o papel das GrandesÉcoles), Bourdieu desvela a crueza da desigualdade social e, ao mesmo tempo, como ela é simulada no sistema escolar e entranhada nas estruturas cognitivas dos participantes desse universo – professores, alunos, dirigentes.
Conhecimento e poder
Assim, a instituição escolar é vista como desempenhando uma grande função de produção de diferenças cognitivas, uma vez que ajuda a produzir esquemas de apreciação, percepção e ação do mundo social por via da internalização dos sistemas classificatórios dominantes no mundo social global.
Suas análises da educação, então, passam a pertencer ao campo da sociologia do conhecimento e da sociologia do poder, pois como ele mesmo afirma, longe de ser uma ciência aplicada e adequada somente aos pedagogos, ela se situa na base de uma antropologia geral do poder e da legitimidade, porquanto se detém “nos mecanismos responsáveis pela reprodução das estruturas sociais e pela reprodução das estruturas mentais”.
Para Loïc Wacquant, Bourdieu oferece uma anatomia da produção do novo capital [o cultural] e uma análise dos efeitos sociais de sua circulação nos vários campos envolvidos no trabalho de dominação. Em La noblesse d´État (A nobreza do Estado) comprova e reforça suas teses iniciais sobre o sistema de ensino e a “relação de colisão e colusão, de autonomia e cumplicidade, de distância e de dependência entre poder material e poder simbólico”. Sua sociologia da educação é, antes de tudo, uma “antropologia generativa dos poderes focada na contribuição especial que as formas simbólicas dão à respectiva operação, conversão e naturalização. (…) O interesse de Bourdieu pela escola deriva do papel que ele lhe atribui como garantidor da ordem social contemporânea via magia do Estado que consagra as divisões sociais, inscrevendo-as simultaneamente na objetividade das distribuições materiais e na subjetividade das classificações cognitivas”.
A apropriação do autor no campo educacional brasileiro ocorre de forma mais incisiva no uso de suas noções mais evidentes e, não raramente, desvinculadas de sua epistemologia. É por isso que podemos encontrar os “teóricos” de Bourdieu, os “ativistas” e, de forma menos usual, aqueles que se apropriam de sua “prática epistemológica”. Constata-se a necessidade de re-conhecer o autor, buscando o entendimento da teoria sociológica que embasa suas noções mais conhecidas e também mais banalizadas, assim como o sentido da percepção do mundo social que tal teoria informa. Bourdieu nos ensina que toda prática humana encontra-se imersa em uma ordem social, sobretudo essa categoria específica de práticas inerentes ao mundo acadêmico. Fazer uma sociologia da educação bourdieusiana, analisando o papel do sistema de ensino na consagração das divisões sociais e consolidando um novo modo de dominação, torna-se um desafio até para os acadêmicos mais ousados.
Ana Paula Hey é professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da UMESP e autora do livro Esboço de uma sociologia do campo acadêmico: A educação superior no Brasil(EDUFSCar/FAPESP)
Afrânio Mendes Catani é professor na Faculdade de Educação da USP e pesquisador do CNPq. Organizou, com Maria Alice Nogueira, Escritos de educação (Vozes), reunindo ensaios de Pierre Bourdieu.

quinta-feira, 7 de março de 2013




Este audiovisual é resultado de um compilado de várias charges que expressam um pouco da educação pública no Brasil.



                                        Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=_17tzxUcuUg

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DISSERTAÇÕES DE MESTRADO
Fonte:http://www.uva.br/trivium/edicoes/edicao-i-ano-iii/resumo-das-dissertacoes/2-entre-a-imagem-e-oreflexo-a-escola-vista-de-fora.pdf

Entre a Imagem e o Reflexo – a escola vista de fora
Autora: Claudia Tadéa Ferreira de Jesus
Orientadora: Fátima Gonçalves Cavalcante
Data da defesa: 17 de dezembro de 2010
Palavras-chave: desigualdade social, cultura escolar, adolescência, inclusão e prática pedagógica.

Em duas décadas de trabalho em escola pública, percebemos que alunos de comunidades com
fortes desigualdades sociais apresentavam dificuldades para se adaptar à cultura escolar. Chamou
nossa atenção o baixo desempenho, indisciplina, reprovação e evasão escolar. Nosso olhar, ao invés
de focalizar esses alunos na escola, deslocou-se para conhecê-los na comunidade. Neste outro
território, investigamos como a escola é vista no cotidiano deles. Assim, nos colocamos diante de
múltiplas imagens que refletiam a escola vista de fora, através de olhares invertidos, nos permitindo
construir um tipo de escuta que nos levou a examinar e confrontar discursos, revisitar imagens de si
e do adolescer, da comunidade, da escola e dos professores. Para tal, construímos uma metodologia
de pesquisa qualitativa que entrelaçou conceitos da Pedagogia, Psicanálise e Sociologia.
Nosso objetivo foi compreender o sentido da cultura escolar para um grupo de alunos de doze
anos e analisar discursos, subjetividades e práticas sociais. Fizemos um estudo de caso que
envolveu: análise histórico-social de uma escola pública; pesquisa-ação com 10 alunos adolescentes
na comunidade em que vivem; grupos de reflexão com 8 professores. Entrevistas, atividades
expressivas, filmes, imagens e livros de história foram utilizados como disparadores dos discursos.
Esse processo também envolveu produção fotográfica e filmagem.
Uma análise histórico-cultural da comunidade e da escola foi feita à luz da Sociologia da
Educação de Pierre Bourdieu. A história da Psicanálise na escola foi revisitada, e a adolescência foi
repensada à luz da Psicanálise, através das categorias de sujeito, subjetividade e estádio do espelho
de Lacan. Concluímos que os capitais social e cultural dos adolescentes e de seus pais se contrastam
com os capitais simbólico e linguístico legitimados na escola. Estranhezas e curiosidades foram
despertadas em sujeitos historicamente silenciados. Foi possível interrogar as polaridades
“aprendizagem x carência”; “pobreza x desinteresse”; “pobreza x cognição”; “ação pedagógica x
fracasso escolar”. O estudo permitiu reconstituir imagens, antes esfaceladas, através de dizeres e
silêncios, apontando novas práticas pedagógicas que acolham sujeitos. Ao se olhar no espelho, “a
escola” pode reconhecer suas contradições. Como produtos da pesquisa destacamos a utilização de
grupos de reflexão com professores e alunos dentro da escola como espaço de construção de novas
abordagens que possam tornar a escola mais inclusiva e a produção de um vídeo-documentário com
depoimentos dos alunos.


Realidade ou ficção?



                                                      Fonte:  sitegoogleblogdobruno.png






Sugestão de leitura, o livro " Diversidades e Ações Afirmativas: Combatendo
as desigualdades sociais " , de Shirley Aparecida de Miranda.





                                                     

segunda-feira, 4 de março de 2013


Bom dia, galera!

Para refletir...





                                           Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=C3trLt0IoOw

Realidade em nosso país! 
Como reverter essa situação de desigualdade social das crianças brasileiras, sem 
oportunidades de crescer na vida, seja no âmbito econômico ou cultural?








                                             Fonte:  http://www.youtube.com/watch?v=kxGXNF6yFkU http://www.youtube.com/watch?v=kxGXNF6yFk

sábado, 2 de março de 2013

Desigualdades Sociais e Educação Escolar

Caros internautas fiquem à vontade para curtirem e opinarem.



O blog fala sobre os problemas da escola pública brasileira e de como os educadores, seguindo os ensinamentos da Psicologia Educacional, julga as deficiências escolares de seus alunos como " Carência Cultural", mascarando assim, atitudes preconceituosas e negativas.