sábado, 30 de março de 2013


"DESIGUALDADE EDUCACIONAL AINDA É TOTALMENTE TOLERADA NO BRASIL"

Para Priscila Cruz, diretora-executiva do TPE, falta de equidade tem de ser combatida


Da Redação do Todos Pela Educação
O Brasil é um País com alta desigualdade social e a Educação é uma das principais políticas capazes de diminuir desvantagens socioeconômicas. No entanto, segundo Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, "hoje, um grande problema que possuímos é uma imensa desigualdade educacional, que, infelizmente, é totalmente tolerada pelos brasileiros".
Segundo Priscila, é preciso que o País adote medidas e estratégias diferenciadas, de acordo com as várias realidades que coexistem nos sistemas de ensino. Na entrevista abaixo, a administradora e bacharel em direito mostra como a Educação é um complexo sistema. Confira:

Todos Pela Educação – Em sua opinião, quais são os principais gargalos da Educação no Brasil?
Priscila Cruz – Os sistemas educacionais são arranjos delicados, que têm os alunos no centro. Hoje, um grande problema que possuímos é uma imensa desigualdade educacional, que, infelizmente, é totalmente tolerada pelos brasileiros.

TPE – O que pode ser feito para diminuir a desigualdade educacional?
Priscila – É preciso dar mais para quem tem menos, e ter estratégias diferenciadas, de acordo com as diferentes realidades de aprendizagem. A Educação é o principal componente para combatermos a pobreza e a desigualdade. Se a desigualdade na Educação amplia a desigualdade social, a equidade educacional pode tornar o ciclo vicioso em ciclo virtuoso.

TPE – E como trabalhar isso na prática?
Priscila – Na Educação, vários fatores são interligados, então, precisamos ter uma sintonia entre os trabalhos parlamentares, as políticas, as ações nas escolas e a participação social. Também as políticas precisam estar em sintonia entre si. Só com essa combinação podemos garantir que cada criança e jovem tenha acesso à Educação de qualidade.

TPE – Hoje, o magistério não é uma profissão atraente. Qual é o impacto disso na Educação e o que precisamos fazer para que se torne uma carreira interessante para os jovens?
Priscila – Só teremos Educação de qualidade com bons professores e, para isso, é preciso atrair para a carreira do magistério os melhores alunos egressos do Ensino Médio. Essa carreira precisa ter atratividade suficiente, pois "concorre" com outras carreiras que são mais rentáveis ou têm mais prestígio. Assim, é necessário que o salário dos professores se aproxime do praticado entre os profissionais com a mesma escolaridade; que o magistério seja reconhecido como a mais importante das profissões, tanto por parte dos governos quanto da sociedade e das famílias; e que a formação inicial e a em serviço prepare os professores para o pleno desenvolvimento de suas atividades em sala de aula e para o trabalho em equipe com os colegas da escola.

TPE – No Brasil, não há expectativas de aprendizagem definidas. Isso atrapalha o trabalho do professor?
Priscila – Sim, claro. Quando conversamos com os professores de todo o País, percebemos um sentimento de isolamento, pois é esperado algo deles que eles mesmos não sabem ao certo o que é. Não há uma definição do que deve ser ensinado e aprendido. Se entendemos que a Educação é um direito que se expressa na aprendizagem, então, nada mais necessário do que a definição das expectativas de aprendizagem para cada série.

TPE – Como os gestores das escolas e das redes podem apoiar o trabalho dos professores?
Priscila – Os gestores de rede, as grandes políticas e os professores precisam se alinhar no vetor da qualidade do ensino. Um dos fundamentos de uma boa gestão é ter um diagnóstico preciso, e ele se dá, nas escolas, por meio das avaliações. Então, as avaliações têm de se tornar um instrumento para fortalecer o trabalho do professor na sala de aula. E isso está intimamente relacionado com a definição das expectativas de aprendizado.

TPE – Na sua opinião, os gestores, os docentes e as famílias são favoráveis a avaliações?
Priscila – Felizmente, a maioria das pessoas entende e concorda com a importância de gerir com base em informações das avaliações. O que é menos debatida é a condição da avaliação como um dos princípios do direito de aprender. É preciso verificar que os estudantes aprenderam o conteúdo, para termos a garantia efetivada do direito ao aprendizado. E por isso é tão necessário que a divulgação dos resultados das provas seja célere, assim, os dados podem ser usados com eficiência, dando condições para que os gestores e professores corrijam rumos ou fortaleçam os bons caminhos.
Como a Educação é um direito fundamental, ela é regida pelos princípios da universalização (todos), da equidade (cada um) e da verificação, para que todos e cada um dos estudantes aprendam.

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