Fonte:http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=YD7CFS0mLaY O filme, nada moralista, mostra o dia-a-dia de uma escola francesa contemporânea, descrevendo problemas educacionais que vão além dessa realidade como importante painel de desafios aos educadores de hoje, pois trata da relação entre alunos e professor e tem por objetivo mostrar o fazer docente, seguindo de perto o cotidiano de um homem apaixonado por seu trabalho e que, mesmo com tantas dificuldades, conserva um afeto enorme por seus aprendizes, onde culturas diferentes se confrontam e o professor insiste em manter um ambiente de respeito e aplicação em sala de aula, mesmo vendo sua ética ser posta em teste, devido ao comportamento difícil dos estudantes que põem em risco o entusiasmo do mal remunerado professor. Diante dessa situação, um dos seus métodos para desafiar os alunos é ensinar um idioma diferente, em comparação ao falado diariamente. Apesar de retratar o microcosmo de um problema da escola francesa a denúncia feita em "Entre os Muros da Escola" pode ser transplantada para a realidade brasileira com os problemas estruturais do nosso sistema de ensino, principalmente no que diz respeito à qualidade e à natureza do ensino oferecido aos filhos das classes menos favorecidas. Os limites da escola pública brasileira sejam no sentido de ferramenta de superação de desigualdades sociais, ou na de formação da cidadania, devem ser percebidos em relação a outras esferas sociais que, por conta de sua imensa complexidade e desigualdade, produzem conflito.
Perceber a dimensão conflituosa e
contraditória da escola, na forma como é representada pelo filme, é de
fundamental importância para se repensar o papel dessa instituição.
Afinal, a tarefa de construção de uma escola democrática e, acima de
tudo, socialmente relevante, demanda uma análise que deve se alicerçar
em uma postura histórica e crítica da realidade em que se está inserido.
Educar é uma tarefa árdua, principalmente educar a quem não recebe
educação em casa, porém quem educa sempre aprende. Os professores
aprendem que paciência é a palavra-chave para contornar todos os
problemas pelos quais perpassam a educação moderna, incrivelmente
pós-moderna, centrada nos direitos dos alunos, buscando assim concertar
erros do passado, como a indisciplina, as práticas punitivas, posturas
docentes mais humanas, uma melhor comunicação entre professor e aluno,
conteúdos adequados a realidade, histórico familiar e principalmente o
respeito às diferenças os quais privavam os discentes de voz dentro da
sala de aula.
Estes tópicos ficam bem claros no filme, onde equipe
diretiva e professores não se preocupam com essas questões, mostrando
uma educação como era no passado, onde muitas vezes o próprio professor
se torna juiz dentro de sua sala de aula, apesar de tentar por sua
garra, dedicação e entusiasmo mudar algo em seus alunos, acaba
esbarrando no que muitos teóricos falam, em algumas dificuldades em
nosso fazer pedagógico nos reportamos a nossa infância, alicerce para
nossas duvidas, então agimos como nossos antepassados. Neste ponto
acabamos deixando cair nossas máscaras de educadores que tentamos passar
no nosso cotidiano escolar e mudar uma sociedade doente e que precisa
de humanidade e justiça.
Esse ponto fica bem claro no filme quando o
professor acaba usando de ironia em situações que não está preparado
para enfrentar. De uns anos pra cá, as novas teorias pedagógicas apontam
que o ensino deve ser mais humano, ou seja, que o professor deve
procurar compreender e estimular os seus alunos, facilitando o processo
da aprendizagem, além de respeitar e lidar com as diferenças
intelectuais, étnicas, culturais e socais de cada aluno. A voz do
professor precisava diminuir para que a dos alunos começasse a ser
escutada. Foi uma conquista e tanto dos estudantes, pois se antes temiam
os castigos físicos e psicológicos que professores empregavam, agora já
podem denunciar abusos de quais quer tipo, praticados pelos seus
mestres, mas muitas vezes os professores não estão preparados para isso,
como mostra um dos professores entrar na sala e desabafar aos gritos os
problemas enfrentados na turma, por ser iniciante na profissão de
educador com certeza teve realmente dificuldade de se adaptar ao novo.
Apesar de Marim se apresentar como um professor dedicado que esbarra na
resistência à cultura escolar por parte de seus alunos, bem como nos
conflitos presentes em uma turma, em sua maioria, por alunos oriundos de
famílias imigrantes, esses conflitos e resistências aparecem,
continuamente, na sala de aula, envolvendo o professor, seus alunos e
entre os próprios alunos, como racismo, sexualidade, disputa entre
identidades nacionais e preconceito de classe, porém também não consegue
lidar com certas situações dentro de sua sala de aula, gerando alguns
conflitos como o que aconteceu em sua sala de aula, a violência com a
briga quando ele usou de palavras não muito adequadas a postura de um
educador ao referir-se a uma aluna. Atualmente os professores estão
enfrentando uma crise de identidade, pois o papel do professor, dentro
da modernidade, sempre foi o de vanguarda em termos de cultura e
civilidade. Este foi o encargo que a burguesia deu ao professor. Seu
papel era trazer o camponês para a vida urbana. Era ensinar os
rudimentos de uma sociedade capitalista, nacionalista e burguesa ação
esta que não poderia ser realizada somente no lar, mas, ultimamente os
professores reclamam que os alunos não são civilizados o suficiente para
estar na escola. Esse filme "Entre os muros da Escola" é um retrato
claro desta confusão de mente que se tem instalado na cabeça da grande
maioria dos professores, pois eles precisam perceber que as diferenças
existem para que nossos desafios como educadores possam ser levados mais
à sério por toda a sociedade. Pode-se pensar como você reagiríamos
diante de alunos, com diversos problemas pessoais e familiares
completamente desinteressados em aprender, diante de manifestações
claras de indisciplina e agressividade, déficits de atenção,
hiperatividade e que a melhor solução seria ensinar esses alunos a
pensar por si próprios, dando subsídios de humanidade e valorização do
eu. De acordo com o que muitos pensam a visão da educação nos países de
primeiro mundo é a mais idealizada possível, onde se possui acesso
gratuito e ensino de qualidade, professores bem remunerados e preparados
para lecionar e alunos felizes e interessados em aprender, mas ao
assistir a produção "Entre os Muros da Escola", temos a plena
consciência que os problemas educacionais podem ir muito além das
queixas de dificuldade de acesso ao ensino, falta de opções ou
qualificações e nos mostra uma emocionante aula de reflexão sobre as
práticas pedagógicas e as diferentes maneiras de se lidar com os
problemas do nosso dia a dia como educadores. Como educadora, percebo
que a escola nunca foi um romance. Sei o que posso fazer, e até onde
posso ir e de minhas limitações. Nunca romantizei a relação aluno e
professor.
"Entre os muros da escola" retrata a escola nua, quase
visceral, onde o professor Marin claramente tem problemas em lidar com
os adolescentes que encara todos os dias. Talvez, esta seja a maior
mágica do filme, mostrando um professor que tem dificuldades, não se
mostra competente no que faz e está longe de ser brilhante, articulado,
ou mesmo, esperto, mas seus alunos são o retrato da juventude, com todas
as características desta fase, as roupas, celulares, o sexo, a revolta,
o preconceito e ao mesmo tempo por não possuírem identidade são
identificáveis em toda parte, é um filme sobre a realidade de uma escola
qualquer, de um professor qualquer, e de um aluno qualquer. Não existem
heróis. Não existem bandidos. O que existem são apenas conflitos, suas
ideologias, e, porque não, sua beleza, que confirmam as desigualdades
sociais e de como o ensino formal deve lidar com os diferentes grupos
sociais, que valores a escola deve definir como fundamentais na formação
do sujeito, quais são os limites dessa educação escolar, dados os
outros elementos constitutivos desse mesmo sujeito e que precisam da
escola para crescer tanto intelectualmente quanto como seres humanos. Na
cena final do filme, quando o professor Marin, no último dia de aula,
pergunta aos seus alunos o que aprenderam durante o ano. A resposta de
uma das alunas chama atenção. Quando perguntada se gostava dos livros
que lia no colégio respondeu que achava todos inúteis, que preferia
escolher por conta própria. Então o professor pergunta: e qual livro que
você leu e gostou? "A República, de Platão", responde a aluna. A
resposta não poderia ser mais surpreendente. Sinal que nem tudo está
perdido. Com essa afirmação, podemos perceber que como educadores
devemos dar espaço e oportunidade para nossos alunos para que possam
construir sua própria identidade.
Autor: Marilene Schwinn |
Este blog foi criado pelos discentes do curso de Letras da UFS: Anne Matos, Jacqueline Carvalho, Marquise Silva, Michelle Lapa, Thays Lima, Tatiane Meireles e Weslayne Paes.
segunda-feira, 25 de março de 2013
''Entre os muros da escola''
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